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De Arruda a Zema. A a Z da campanha no Brasil – Diário de Notícias

Houve de tudo em 47 dias de combate entre Jair Bolsonaro, Lula da Silva e demais nove candidatos ao pleito deste domingo: alianças improváveis, vídeos virais, mortes de apoiantes, ataques religiosos, ameaças golpistas, polémicas raciais, atentados à moral e bons costumes, guerras em família e, como antes de um jogo de futebol, muita pressão sobre a arbitragem do Tribunal Eleitoral. Uma pressão que deve continuar mesmo após a eleição…
© Ilustração: Rui Leitão
A de Arruda
De entre as centenas de episódios de violência em campanha, o mais chocante, por ter sido filmado por camâras de segurança, vitimou Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, assassinado a tiro durante a festa de aniversário de 50 anos, ao lado da família e amigos, por um invasor bolsonarista.
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B de Bolsonarismo
O que é, afinal, o “bolsonarismo”, corrente que reúne de órfãos do moderado PSDB a fãs da ditadura, passando por terraplanistas? O tempo dirá. Mas o último neologismo da política brasileira, mesmo em caso de derrota, “continuará existindo”, prevê o insuspeito Lula. Politólogos anteveem, entretanto, um processo de canibalismo entre as suas principais correntes.
C de Cássio Cenali
Cada eleição no Brasil tem uma palavra tema: a de 2018 começava por um C, de Corrupção. A de 2022 também: o C, de Comida. O vídeo gravado por Cassio Cenali, o patrão bolsonarista com dois C como iniciais que negou uma marmita de arroz e feijão à faminta Ilza Rodrigues, apenas por ela ser lulista, resumiu, com requintes de sadismo, o tema de campanha.
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D de Datapovo
O principal instituto de sondagens do Brasil, o Datafolha, assim como todas as outras empresas concorrentes credíveis, foi dando consistentemente Lula em primeiro lugar e Bolsonaro em segundo, para ira dos apoiantes deste último, que responderam aos números com os registos fotográficos das manifestações a favor do presidente, chamando-os de “Datapovo”.
E de Ey, Ey, Eymael
“Lula Lá, Sem Medo de Ser Feliz”, por ser o tema de campanha do líder das sondagens, andou na boca de muita gente. Mas o slogan mais famoso do Brasil é o recorrente “Ey, Ey, Eymael, um democrata cristão”, do Constituinte Eymael, candidato à presidência pela sexta vez consecutiva. Em 2018, Eymael teve 0,04% mas então, como agora, disse “ver sinais” de que estaria a disputar a segunda volta.
F de Frente Ampla
Para encurralar Bolsonaro num extremo, Lula começou por convidar o ex-adversário Geraldo Alckmin [ver letra P] para vice. Depois juntaram-se a ambientalista Marina Silva e o banqueiro Henrique Meirelles, ambos candidatos em 2018. Mais tarde, até Joaquim Barbosa, o austero juiz do Mensalão do PT, e Reale Junior, um dos subscritores do impeachment de Dilma. Mesmo Faria Lima, também com F, espécie de Wall Street brasileira, se reuniu com o ex-sindicalista e saiu a sorrir. Por falar na letra F, Fernando Henrique Cardoso (FHC), himself, deu a entender, em nota, estar com o velho rival, apesar de o seu PSDB apoiar Simone Tebet.
G de Guerra Santa
Quando um dos candidatos tem como mote “Deus, Pátria, Família e Liberdade” e viaja sempre acompanhado de um pastor, a religião necessariamente entra na campanha, até porque o Brasil ésqx o país com mais católicos e o segundo país com mais protestantes do mundo. Grosso modo, muito grosso modo mesmo, os primeiros votam Lula, os segundos Bolsonaro.
H de Haddad
Nem só da corrida ao Planalto vivem as eleições brasileiras. Há 1607 vagas a preencher, executivas e legislativas, entre as quais a de governador de São Paulo, onde um terço do PIB do país se concentra. Lá, trava-se uma disputa em forma de tubo de ensaio para 2026 entre Fernando Haddad, o delfim de Lula, e Tarcísio Freitas, o delfim de Bolsonaro.
Fernando Haddad
© Miguel SCHINCARIOL / AFP
I de Imbroxável
Quis o destino que as comemorações dos 200 Anos da Independência do Brasil ocorressem durante uma campanha. Nelas, Bolsonaro, presidente e candidato (muito mais candidato do que presidente), chamou Lula de ladrão, comparou o físico das mulheres de ambos e puxou o coro “imbroxável” para constrangimento geral.
J de Jefferson
Três candidatos não chegaram à meta. Pablo Marçal, um coach cujo partido, PROS, decidiu apoiar Lula à última hora, André Janones, que chegou a 2% nas pesquisas, mas abdicou para se tornar um nervoso apoiante do antigo presidente, e Roberto Jefferson, inelegível por questões penais. Sem Jefferson, o Brasil pôde conhecer o seu excêntrico substituto, o padre Kelmon (que não é padre), auxiliar de Bolsonaro nos debates.
K de Kid Bengala
Por falar em K, de Kelmon, outro K chamou a atenção: o candidato a deputado Kid Bengala, um ex-ator pornográfico cujo slogan “vou meter o pau nessa bagunça” foi vetado por atentado aos bons costumes. Ainda no K, Lula indignou os bolsonaristas ao comparar as manifestações deles, no 7 de Setembro, com reuniões do infame Ku Klux Klan.
L de L
Se em 2018 se falou de corrupção e em 2022 se fala de comida, em 2018 o gesto da moda era a “arminha”, pró-Bolsonaro, e em 2022 o “L”, pró-Lula. Por coincidência, em ambos os gestos se estica o indicador e o polegar e se mantém os restantes dedos contraídos, a diferença está na direção que se dá.
M de Michelle
Para cativar as mulheres, Bolsonaro convocou a primeira-dama para a campanha. Ela fez-se notar pelo vestido levado ao enterro de Isabel II, por chamar a atriz lulista Bruna Marquezine de feia e vulgar, por pedir jejum por Jesus num país onde 33 milhões passam fome e por se ter envolvido em discussão com a ex do marido, Cristina, e o filho desta, Jair Renan, sobre quem merecia usar o apelido “Bolsonaro”.
Michelle Bolsonaro
© Sergio Lima / AFP
N de Nona
Desde a redemocratização, em 1985, houve oito presidenciais. Na primeira, Collor de Mello bateu Lula, na segunda e na terceira FHC venceu o ex-sindicalista, na quarta e na quinta, este superou José Serra, primeiro, e Geraldo Alckmin, depois, na sexta e na sétima, Dilma ganhou ao repetente Serra e a Aécio Neves. A oitava, há quatro anos, viu Bolsonaro superar Haddad.
O de Obrigatório
O voto no Brasil é obrigatório – quem não cumprir o dever, pode ter até empréstimos bancários negados. É também eletrónico – o eleitor digita o número correspondente a cada um dos candidatos (Lula é o 13, Bolsonaro o 22), além de escolher governador, senador e deputados federal e estadual. E será, pela primeira vez este ano, simultâneo – apesar dos três fusos no país, todas as urnas encerram às 17.00 horas de Brasília, 21.00 horas em Lisboa.
P de Picolé de Chuchu
Em 2006, o PT cunhou em Geraldo Alckmin, o então candidato do PSDB, a alcunha “Picolé de chuchu” pela suposta falta de carisma do rival de Lula. Passados 16 anos, Lula e Alckmin estão lado a lado, como candidatos a presidente e vice. “O prato do ano no Brasil é Lula com Chuchu”, resumiu Alckmin. Bolsonaro, por sua vez, namorou Tereza Cristina, a ministra da Agricultura, para somar apoios femininos, Gilson Machado, ministro do Turismo e sanfoneiro nas horas vagas, para somar apoios no nordeste, mas acabou nos braços fardados de Braga Netto, outro general, depois de Hamilton Mourão, em 2018, como candidato a vice.
Q de Quilombolas
Ainda que a população brasileira seja composta por 56% de pretos e pardos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Congresso apenas 17,8% dos parlamentares são negros. E não há nenhum quilombola – habitante de um dos seis mil quilombos, povoações de escravos fugidos da escravidão, ainda existentes no país. Por enquanto: este ano foram lançadas 17 candidaturas quilombolas a deputados em 13 estados.
R de Raça
Por falar em raça, os candidatos devem declarar a qual pertencem: branco, preto, pardo… Antônio Carlos Magalhães Neto [ACM Neto], candidato ao governo da Bahia, apesar de branco, declarou-se pardo. Os rivais chamaram-no “afroconveniente” e acusaram-no de fazer bronzeamento artificial durante a campanha. Ele respondeu que está queimado por causa das arruadas.
S de Sergio Moro
ACM Neto é um dos líderes do União Brasil, para o qual migrou o ex-ministro Sergio Moro já a meio da pré-campanha, convencido de que seria candidato presidencial. Acabou a lutar por vaga no Senado. Para o Planalto, o União começou por apresentar Luciano Bivar, mas decidiu-se pela bolsonarista arrependida Soraya Thronicke.
Sergio Moro
© Leonardo Negrão/Global Imagens
T de Terceira Via
Por meses, a imprensa especulou sobre o candidato da terceira via, a alternativa a Bolsonaro e Lula. Percorreu quase todo o abecedário, de apresentadores de TV, como Luciano Huck, a ex-ministros bolsonaristas, como Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta, passando por barões do PSDB, como João Doria ou Eduardo Leite, até chegar à letra T, de Tebet. A senadora, entretanto, segue em quarto nas sondagens empatada com Ciro Gomes.
U de Útil
Ciro Gomes começou por fazer de Bolsonaro o principal alvo, depois trocou-o por Lula e acabou a vociferar contra o “voto útil”. Uma batalha perdida, tendo em conta que até os seus irmãos Cid e Ivo Gomes trocaram de lado no Ceará, estado natal da família.
V de Vera Magalhães
Os jornalistas não são notícia, mas Vera Magalhães, chamada num debate de “maior vergonha do jornalismo brasileiro” por Bolsonaro e pivô de uma briga entre um deputado, que a filmava e ameaçava, e um diretor de televisão, que a defendeu atirando o telemóvel para longe, acabou involuntária protagonista da campanha.
W de Windsor
Quando o Brasil ainda sacudia a poeira do discurso do “imbroxável” no 7 de Setembro, já Bolsonaro voava para o enterro de Isabel II, em Windsor, onde, da varanda do hotel, atacou a ideologia de género e as esquerdas sobre o caixão da rainha. A seguir foi à ONU ouvir Joe Biden exigir que o resultado das urnas brasileiras fosse respeitado, sem Capi- tólios tropicais.
X de Xandão
Apresentados os jogadores, eis o árbitro: Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Eleitoral (TSE). O juiz do Supremo, ministro da justiça no Governo Temer, tem defendido o voto eletrónico e combatido as notícias falsas, razão pela qual os bolsonaristas o detestam e os lulistas o aplaudem, ao ponto de o alcunharem, nas redes sociais, com o aumentativo Xandão. Se em 2018, as fake news se centravam na moral – Haddad, diziam, ia instituir a “mamadeira de piroca” [biberon de pirilau] para combater a homofobia – em 2022 foca em mal amanhadas aldrabices sobre os riscos das urnas eletrónicas.
Y de Youtube
Nem só Bolsonaro protesta, no entanto: a campanha de Lula queixou-se no TSE de que o algoritmo do YouTube privilegia a exposição de vídeos pró-Bolsonaro ao partilhar conteúdo da Jovem Pan, grupo de comunicação simpático ao governo chamado pelas esquerdas de “Jovem Klan”.
Z de Zema
Diz-se no Brasil que os mineiros “comem pelas beiradas”, isto é, chegam aos objetivos devagar e discretamente. É o caso de Romeu Zema (Novo), perto da reeleição no governo de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, e pronto para herdar nas presidenciais de 2026 os despojos da direita, em caso de derrota de Bolsonaro.

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